Trabalho doméstico atinge 10 mi de crianças, diz OIT.
Aproximadamente 10 milhões de crianças atuam como "escravos" do trabalho doméstico em todo o mundo, afirmou nesta quinta-feira a OIT (Organização Internacional do Trabalho), ligada à ONU (Organização das Nações Unidas). Apesar disso, segundo a organização, o problema é amplamente ignorado em muitos países.
De acordo com o relatório pioneiro de 112 páginas da OIT, as crianças, em sua maioria meninas, sofrem nas mãos de seus patrões --que as mantêm como empregadas a fim de demonstrar status social.
Elas raramente são pagas, algumas vezes sofrem abusos sexuais e até esquecem seus próprios nomes depois de anos sendo chamadas de "garota" ou "garoto", disse June Kane, autora do documento.
Kane se negou a citar países, mas o documento oficial aponta casos na América Latina, Ásia e África do Sul. O estudo divulgado coincide com o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, que acontecerá neste sábado.
Um século
Kane afirmou que o trabalho infantil era comum na Europa um século atrás, mas as reformas sociais acabaram com tal prática. Ela disse que não se referia às crianças que ajudam os pais em casa.
"Eu mesma venho de uma família pobre", disse Kane, recordando sua infância na década de 50 em Liverpool, no Reino Unido. "Quando eu era jovem, queria ganhar meu próprio dinheiro", referindo-se ao fato de apontar lápis para o pai, que era artista.
As crianças trabalhadoras acordam antes de seus patrões levantarem, afirma o estudo. Elas cozinham, limpam e levam outras crianças para a escola --"uma das coisas mais tristes", disse Kane.
Quando são consideradas "muito velhas" [aos 16 anos], muitas são expulsas por seus patrões, mas acabam morando nas ruas porque não têm idéia de como --ou onde-- encontrar suas famílias.
O estudo da OIT afirma ainda que cerca de 2 milhões de crianças trabalham como empregadas domésticas na África do Sul, 559 mil no Brasil, 264 mil no Paquistão, 250 mil no Haiti, 200 mil no Quênia, e 100 mil no Sri Lanka. Cerca de 700 mil trabalham na capital da Indonésia, Jacarta, 300 mil em Dacca, Bangladesh, e 150 mil em Lima, no Peru.
No Haiti, 10% destes menores têm menos de 10 anos e, no Marrocos, 70% das crianças "empregadas em casas" têm menos de 12 anos, aponta o relatório.
"Infelizmente, muitos países não vêem o trabalho doméstico infantil como um problema", afirma Kane.
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